sexta-feira, 24 de junho de 2011

24 de Junho - Dia do Caboclo ... O CABOCLO - Amapaisagens, 1992 - Hélio Pennafort


O caboclo é capaz de remar horas a fio pela sinuosidade dos igarapés sem parar o remo, nem quando pega um remanso a favor.

O caboclo é inteligente a ponto de saber o momento certo de zagaiar o tucunaré, valendo-se, apenas, do rebujo do lago.

O caboclo é suficientemente sagaz para descobrira posiçãodo caranguejo escondido no lamaçal e defender a mão do aperto das unhas do bicho.

O caboclo é competente para dirigir uma embarcação nas agitadas marés da costa Norte, em plena escuridão, sem precisar de bússolas, ecobatímetros e radares.

O caboclo é mestre na estrovação do anzol e na preparação da malhadeira, instrumentos que facilitam a sobrevivência na beira dos rios.

O caboclo é exímio dançarino e tem resistência para ficar rodopiando com a dama a noite toda, num salão de paxiúba.

O caboclo arma seu matapí com uma paciência fora do comum e, quando coloca a última tala, ainda abre aquele sorriso que é só felicidade.

O caboclo sabe distinguir o olho da paca, do veado, da onça, e qualquer bicho, quando se aventura em caçadas noturnas nas grimpas solitárias dos pequenos riachos.

O caboclo sabe dedilhar viola, cantar seresta e dizer à cabocla amada que "a última vez que eu te beijei, me alembro claramente que era noite de luar".

O caboclo é bom de porrada, e o seu jeito de brigar ainda é aquele de meter a cabeça nas pernas do cara e jogar o corpo para cima.

O caboclo é humano, pacífico e explode de carinhos, ao entalar uma asa quebrada do jacamim de estimação.

O caboclo é respeitador e, se mexer com a moça alheia, casa logo.

O caboclo é bom de cana, nem cospe, e ainda lambe os beiços depois de empurrar meiota pelo gargalo de uma só vez.

O caboclo é crente, acostumado a rezar, e tufa o peito de fé quando aconselha na ladaínha do padroeiro que "um rosário de Maria / quem rezar com devoção / não morre sem sacramento / nem também sem confissão / assim disse Jesus Cristo / quando encontrou com Adão".

O caboclo é esperto e, se está perdido no mato, bate no tronco da sapopema para ser achado.

O caboclo tem um jeito próprio de assoviar que chama o vento, quando a calmaria no litoral não empurra sua pesqueira para a frente.

O caboclo é objetivo e se vê alguém bestando com uma mulher é capaz de dar como conselho um ..."trepa logo!".

O caboclo é apegado a tudo quanto é crendice e superstição e sempre se deu bem com isso.

O caboclo é arteiro. Acende um cigarro porronca no meio da ventania fazendo uma concha protetora com a mão esquerda, metendo o palito por baixo.

O caboclo tem pronúncia própria e, no embaralhamento sonoro das letras, troca o coeficiente pelo cueficiente.

O caboclo arma poesias sempre enaltecendo suas coisas, como a "cabeça da gurijuba / que é bom pra chuchu / mocotó de caranguejo / este antão abafu / e o trapiche da Vigia / bão! este que não é pitiú".

O caboclo é pávulo e, quando sai de uma festa, gosta de ver sua camisa branca suja de batom vermelho.

O caboclo não tem nada de besta e sabe que o que a mulher gosta, mesmo, é de muito caquiado, no embalar da rede.

O caboclo faz parte da Amazônia. Como o açaí, o boto, o tucunaré e a cobra grande.

Linguajá Caboclo 

Remanso : Trecho de rio em que não há corrente apreciável . 
Zagaiar: Jogar lança curta utilizada para pesca. Pescar com Zagaia.
Rebujo: Fenômeno Aquático como a preamar, correnteza, enchente, vazante.
Estrovação: Vem do verbo Estorvar (atrapalhar, impedir). Significa reforçar o Anzol.
Malhadeira: Tipo de rede de pesca bastante utilizada na amazônia.
Paxiúba: Espécie de Palmeira.
Matapí: Cesto cônico com abertura na base, utilizado para captura de Camarão.
Tala: Parte rígida tirada da folha de palmeiras, é utilizada para dar suporte a algo.
Paca: Mamífero roedor de pelagem castanha e malhas claras.
Grimpas: No alto, em cima. Ex: Na grimpa do morro. (no alto do morro)
Entalar: Colocar a tala em algo para dar suporte.
Jacamim: Tipo de Ave.
Sapopema: Tipo de Árvore
Bestando: Fazendo algo sem importância, inútil, à toa .
Trepa logo: " Transa logo "
Porronca: Cigarro feito de fumo na palha.
Gurijuba: Tipo de Peixe.
Pitiú: Cheiro característico, como o odor do frango cru, do peixe ..
Caquiado: Movimentos na dança feitos para impressionar.
Boto e Cobra Grande: Lendas indígenas conhecidas na Amazônia.

Poesia do Hélio , Linguajá Caboclo elaborado por mim.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prosas do Novo Código Florestal



Nossos pequenos continuam sendo pequenos
E os grandes inventam qualquer baboseira que passam tranquilamente bancando os cientistas ...
Retratos do Brasil 

sábado, 4 de junho de 2011

Conhecimento Geográfico : Do Empirismo à Razão

Um Breve Apanhado

Estas postagens objetivam fazer uma análise epistemológica e histórica da Geografia, abordando o advento do pensamento científico e da disciplina, discutindo seu desenvolvimento e elaboração como ciência. Observam-se assim os debates que ocorreram em torno da definição dos objetos e categorias consideradas para tal ciência. Um trabalho pautado em revisões bibliográficas, cuja as obras possuem valor significativo para os estudos geográficos na contemporaneidade. Então diante do exposto, fica evidente que essa linha de pensamento deve entender e observar o espaço em todas as suas dimensões organizacionais, ajustada à uma visão sistêmica.

P-C : Geografia. Espaço. Tempo. Dialética. 

O conhecimento geográfico surge na data provável de 5.000 e 6.000 anos a.C, desprovido de todo método científico, ele era apenas vinculado à pratica e observação. Toma-se como exemplo as civilizações greco-romanas, contribuintes para a sistematização inicial de informações que podem ser conferidas em obras geográficas, relacionadas ao controle de cidades antigas e elaboração de estratégias de invasão territorial na antiguidade e no novo mundo. Fatos de extrema contribuição para uma análise mais detalhada do passado geográfico, cuja história remonta às explorações, relaçoes espaciais através das grandes navegações como em Almagesto, de Ptolomeu e a retratação de experiências históricas presenciais como em Ilíada  e Odisséia, de Homero. Não podendo deixar de fora é claro o grande Estrabão, Historiador, Filósofo e Geógrafo Grego que escreveu a grande Obra do legado geográfico Geographia, Originalmente com 17 volumes, mas que chegou a atualidade com 16 volumes, faltando o 7° livro apenas. Assim nasceu a Geografia, meramente descritiva ... 

(continua)