Para começar a falar sobre o sentindo do texto deixa eu contar um "causo" para vocês.
Certo dia, li uma notícia que dizia que uma senhora vivia sem dinheiro há 16 anos. Se trata de da alemã Heidemarie Schewermer (69 anos) que largou a vida de psicoterapeuta e professora, e dizia estar vivendo um período muito bom de sua vido por ter doado tudo o que possuía.
Foto da alemã Heidemarie Schewermer que vive sem dinheiro há 16 anos.
No início, não me dei conta da grandeza da palavra "tudo" colocada na reportagem, mas lendo o restante da notícia, percebi que realmente aquela senhora havia doado seus objetos pessoais, seu apartamento e todas as suas economias.
Sem dinheiro e mais pertences, ela passou a trocar serviços por alimentação e moradia, como por exemplo fazendo serviços domésticos ou ajudando alguém com problemas pessoais. Assim ela consegue suprir suas necessidades, o transporte e as roupas vem de doações de pessoas que a conhecem, e em troca ela oferece somente o que tem, que é sua espiritualidade e companhia, pois ela conta que muitas pessoas estão sozinhas e com problemas, e que ela pode ajuda-las a superar isso.
Foi curioso para mim saber que as pessoas saciam as necessidades pessoais de Heidemarie, apenas em troca de sua companhia, de conselhos, desabafos ou até mesmo algumas gargalhadas. Mais curioso ainda, foi ler o que ela disse quando perguntaram sobre como ela se sentia, respondendo que sua atitude a deixou mais feliz do que era antes, e que foi uma "grande libertação" para ela.
É ... a vivência no mundo pós-moderno nos tira toda a noção da plenitude de valores primordiais para nós. Por isso sofremos tanto, nos decepcionamos tanto e vivemos eternamente insatisfeitos. A vida merece ser bem mais explorada e não se resume em ter o melhor emprego, o melhor carro ou a melhor casa, pois embora sejam grandes aspirações, viver com dignidade ainda pode ser uma vida de doações onde o "feedback" está nas doações espontâneas que voltam para nós, de pessoas igualmente dedicadas a alcançar a plenitude da vida.
A grande reflexão desta vez é a ideia de que podemos ser maiores que a força que nos impulsiona ao encontro da ostentacionalidade e do materialismo, pois podemos quebrar o protocolo do fraco e do distante, tornando-nos seres humanos infinitamente mais realizados se nos despojarmos do imenso fardo que tomamos para nós, aliviando-o através de uma verdadeira busca pelo amor, pela partilha, e pelos sentimentos infinitos cultiváveis, pois se no "viver" há alternativas, viver feliz é o eterno alvo.
Eliakim Silva