domingo, 15 de julho de 2012

Qual a cor desta azaleia?



“É da cor que todo mundo gosta”, respondeu, mais com os olhos do que com as palavras. Evidente, claro, como se outra não pudesse ser a razão de ser daquela expressão da natureza. Eu mergulhei nos seus olhos verdes e vi a flor, vi vermelha. Pouco importava a cor. Mais alguns passos, lentos; caminhava o caminho de uma vida.Sentamos no banco em silêncio; quase tudo era silêncio àquela altura da sua vida. Sua mente calava aos poucos. Eu imaginava que era como andar para trás, de costas. Era o Alzheimer, que pouco a pouco me roubava da memória de minha mãe e ela de mim. Ao menos foi assim que cheguei a pensar. Mas mais uma e intensa vez ainda ela me ensinaria de novo e preencheria minha vida de mais significado. E mais uma vez eu lhe seria eternamente grata.

Durante toda a sua vida cuidou da nossa no mínimo detalhe. Tocasse onde tocasse com suas mãos, era evidente o cuidado, transparente, natural. Absolutamente natural. 

Assim, tudo o que cozinhava virava iguaria, toda roupa que costurava traduzia delicadeza e bom gosto, todo toque de sua mão na nossa mão anunciava segurança. Ela era o nosso porto, de onde partíamos e para onde regressávamos saudosos de seu amor silencioso. Nada mais estranho, então, essa sua lenta partida para um momento de memória onde não tínhamos lugar.

Sentamos no banco, um daqueles de parque, típicos, com ripas de madeira. Ficava bem em frente à janela de seu quarto. Cabiam três, mas estávamos nós duas. Fiquei bem pertinho, passei meu braço por trás dela, sua cabeça encontrou meu ombro e, enquanto lhe falava, dormiu. Tinha saído de casa para estar com ela naquela manhã e assim adubar com a esperança de um zeloso jardineiro as imagens das nossas lembranças. Ela dormiu, por um longo tempo. Eu fiquei zelando seu sono. Quando despertou, me olhou longa e carinhosamente com seus enormes olhos verdes. Não sei se ela sabia exatamente quem eu era. Mas naquele momento não teve a menor importância. Seu olhar me agradecia a delicadeza daquele presente inesperado: um sono tranquilo. Foi a primeira vez na vida que me senti profundamente feliz por dar uma oportunidade de um sono tranquilo em meio ao turbilhão que, no caso dela, era ocasionado pela doença. Anos mais tarde, reencontraria essa mesma privilegiada sensação, desta vez com minha filha. Era noite de intenso temporal, acordei com o barulho da chuva e dos trovões, 
desci as escadas já prevendo o medo que ela, bem pequena, deveria estar sentindo por causa de toda aquela barulheira. Abri a porta e a vi, tranquilamente, dormindo. E eu me lembrei por quê: sabia-se amparada, segura. Amor é palavra intransitiva. E uma vez mais aprendi com minha mãe que há muitas formas de a vida acontecer e tecer seu curso de cuidados nas relações humanas: tudo por causa do amor, que nos restaura, nos ensina, nos revela as muitas e variadas formas de manter-se conectado ao outro, de cuidar. Como li recentemente: “Se o amor é a resposta, qual é mesmo a pergunta?”


Obs: O sistema Blogger está com restrições quanto à formatação, pois toda vez que tentava justificar a postagem para torna-la esteticamente mais adequada, ela ficava toda desconfigurada. Por isso  postei ela assim, sem uma formatação legal. Espero que gostem do texto. Abraços

quinta-feira, 5 de julho de 2012

In Memoriam - Aziz Ab'Sáber







Quem foi Aziz Ab'Sáber ? 

-   Aziz Nacib Ab'Saber , foi professor Emérito da USP e professor Honorário do Instituto de Estudos avançados também da USP. Nasceu dia 24 de outubro de 1924 em São Luiz do Paraitinga - SP, de origens humildes e descendência árabe.
Aziz era Geógrafo, com grande conhecimento em fitogeografia, geomorfologia e ecologia. Defendia o Meio Ambiente e a sensibilidade social e política para discusar sobre as postulações sobre preservação e desenvolvimento de áreas fundamentais como a Amazônia.

Atividade Política
- Aziz era dotado de um refinamento intelectual e cultural muito grande, era conhecido por suas críticas radicais em favor da democratização da universidade e da sociedade no Brasil, além de estar fundamentalmente ativo e mobilizador na desconstrução do Novo Código Florestal proposto pelo governo federal (2011- 2012). Ele também foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, dimensionando suas perspectivas neoliberais propondo-a como alternativa fundamental para a sociedade Brasileira.

Vale lembrar que ele também defendia ferozmente o direito inalienável que cada brasileiro tem do acesso à Educação e cultura, por isso defendia o Ensino Público e Gratuito e a instalação de bibliotecas públicas de qualidade por todo o Brasil.



Ab'Sáber também fundou e era presidente de Honra do Instituto de Cultura Árabe no Brasil, cuja finalidade é divulgar a diversidade brasileira tão destacada por ele, tomando a nossa cultura como rica e importante para o desenvolvimento científico, cultural e filosófico para a humanidade.

Aziz Ab'Sáber faleceu aos 87 anos, dia 16/03/2012 em São Paulo vitima de um infarto e deixou-nos não só grandiosa produção do conhecimento e imponência à pesquisa geográfica, mas também a certeza, a clareza e a firmeza de um compromisso social, base de um trabalho intelectual exemplar de engajamento e compromisso com a construção de uma sociedade brasileira justa e igualitária. 


Que descanse em paz ...